ODISSEIA DA ILUSÃO


Uma grande Ode poética do poeta, ator e escritor baiano 
Artur Oliveira, ou Artur Teatro.

Quando o barco da vida é posto ao mar
E são içadas as velas da esperança
Quando os ventos marinhos a inércia quebra
 Germinando o futuro aonde medra
O fantasma abissal da ignorância
 Eu no arfam germinal de minha infância
Do convés olho o mar e me entretenho
Vejo a proa adentrando as verdes águas
Qual Moises ordenando ao Mar Vermelho
 Como é belo o meu sonho a navegar
Pelas vagas infindas da esperança
Sob a lua noite adentro a desfraldar
Sua seda de linda rutilancia
Eu tão pequeno, tão infante, esperançoso,
Adentrando o cruzeiro de minha vida
Embarquei na Odisseia apoteótica
Despediu-me no porto a flor garrida
Por que me fiz viajante deste barco,
Se outrora seguro me encontrava?
Se o berço uterino me acolhia
Se nas águas maternas navegava?
Sim... Embarquei pelo sonho de nascer
Ao final destas turvas hei de encontrar
Uma luz que minha face há de tocar
E meus olhos perder-se-ão nas amplidões
Quando o ar adentrar em meus pulmões,
Eu de medo e de dor hei de chorar
Do outro lado, na vida hei de encontrar,
O que tanto almejam os corações
Oh! Deus... Parai minhas vibrações corpóreas!
Não me submirjam do mar de sonhos
Não me adentrem nesta viagem insana
Qual navegante de um barco medonho
Não me escravizais assim sem piedade
Para adentrar minh´alma aos tropeços
Ao cruel mundo da realidade!
Para expulsar-me do sonolento berço!
Deixe que o belo sobrepuje o feio
Que a mátria língua cumpra seu papel
Que as palavras tornem o amargo em mel
Que a beleza aqui então possa ser lida
Que o viajante do mundo das letras
Aqui encontre doçura na vida!
Não me deixe à deriva o veleiro amigo!
Em tua proa anseio navegar
Quero o prazer das sensações simplórias
Qual sentir frio, arrepio, e espirrar!
Quero correr nos verdes, lindos vales!
Os ares puros poder respirar
Aos braços da musa hei de encontrar
O amor sincero com bênçãos de Deus
E deste amor que surjam os filhos meus
E já velhinho eu brinque com meu neto
Cale-se barco! Sei que ainda sou feto!
E ainda tenho muito a navegar
 E até ancorar-me no porto da vida
Muita tormenta hei de encontrar!
Que mal te faz estas doces palavras
De um pobre infante na aurora da vida,
Que radiante espera ansioso,
Para aprender da coisa não vivida?
Mergulhe em mim condor da existência
Deixe que eu pegue carona em tua asa
Que me transporte pairando em tuas plumas
Pois minha família já me aguarda em casa!
Quando a alma anseia pelo novo
E a vida tece a teia da bondade
Do sujo poço da vil ignorância
Ergue-se o monstro torpe da maldade
Vem lá do fundo do abismo infernal
 Cravar no justo as garras da impiedade!
Deus tu que és da terra o criador e dono
Será que o mal tem teu consentimento?
Por que os ímpios reinam sobre os justos?
Perdão senhor, me falta entendimento!
Não te vás embora! Ó linda lua!
A noite escura clama por teus raios
Ai! O céu se tinge, o chão estremece,
Minha mente doida em giros embrutece.
Oh!... Por que o vento tornara tão abrupto
Se outrora fora dócil e tão afável
Por que se ergue em fúria o oceano?
Por que oh mar, te mostras implacável?
Ai... Quão impiedosa é esta dor que sinto
O mundo inteiro gira em espiral
O mar e o céu alem, no firmamento,
Enlaça o barco num abraço infernal
Jesus tu que és o santo filho do Deus vivo
 Que o céu e o mar lhe é obediente,
Parai as nuvens, o mar, o firmamento
Pois fé em ti a minha alma sente! Meu Deus...
O turbilhão furioso draga o pobre barco
O leviatã maldito dá-lhe um torpe abraço
Um infame gládio a submergir das águas
No meu veleiro seus tentáculos crava,
Deixai-o, não despedaceis o meu lindo sonho!
Livrai-me ó Deus... Pesadelo Medonho!
Puxai senhor, as pontas deste laço!
Amém ó Santo Deus! ... Amém! 
Aos poucos tudo para de girar
E o silencio a tormenta acalma
E a ciranda deste enlace insano
No mar de trevas adentra minha alma!
Sumiu o mar, o barco, o firmamento,
Enclausurando-me nesta escuridão,
Restando a treva, o vazio e o nada!
E as batidas do meu coração... Ai...
Que medo insano me aturde a mente
Por que se fora aquela paz de outrora?
Do amor materno que sentira dantes
Eu sinto apenas o abandono agora!
Oh! Que arrepio estranho me aturdiu a alma
Um calor intenso me adentrou o corpo
Que sensação horrenda eu sinto em minha pele
Algo que prenuncia presença de morto!
Santo Deus!... Meu sangue ferve...
Minha pele inteira tornou-se avermelhada...
Sinto a boca do inferno com seu hálito quente
A lamber meu corpo... Ai que dor pungente!
Numa atitude atroz, vil... Amortalhada... Suplico-te!
Ó santo Deus... Sopre a brisa fria vinda lá dos polos
A minha pele queima... Piedade imploro!
Meu corpo tá em chagas... Pai... Dá-me teu colo!
Neste instante o mar veio a enfurecer-se Fez-se algoz...
Tsunami infernal! Adentrando abrupto pelo vale
Louco a penetrar o abismo abissal!
Dentre as vagas se ergue o leviatã
Monstruoso, implacável, horripilante!
Num rugido horrendo, brutal, cavernoso,
Vi seus dentes metálicos cortantes Ai...
Suas garras qual lanças me penetram
Num aperto voraz ossos esmagam
Qual felino este monstro me devora
A rasgar-me com os dentes, dentre as vagas.
Adeus viagem, adeus barco, adeus sonho!
 Minha vida este monstro vil devora. Deus...
A ti minh´alma clama por viver
Mas minhas forças se exaurem nesta hora.
Não... Não me expulsem do berço uterino
Minh’ alma por piedade implora
É horrendo meu corpo a estraçalhara-se
Qual uma presa que o chacal devora!
 Mãe... Tu que fora por Deus designada
Para dar-me a vida e dar-me amor!
 Como pegas o sangue do teu sangue
E o atiras num abismo de terror?
Calar-me hei... Monstruosa criatura!
De que valem palavras ditas em vão?
Em teu peito abissal a peste Medra!
Tu tens pedra em lugar de coração!
 Por que rijos condenam-me Deus insólito?
 Por quais crimes me cobra teu algoz malvado?
O que estão a punir-me com tamanha dor,
Se ainda nem nasci pra cometer pecado?
 Perdão senhor! Perdão... Blasfemo!
A dor é tamanha que me aturdiu a mente!
Meus ossos rangem, aquebrantado caio,
O turbilhão me suga imponente
Em um golpe atroz, que de dor desmaio!
Despertei sob os raios da aurora
Com a luz me ardendo na retina
 Vi meu corpo aos pedaços pelo chão
Triste quadro de vil carnificina
A matilha de cães fuçava o lixo
Furiosa, faminta, raivava a rosnar.
Com a vida quase finda, clamava ao céu!
E urubus volteavam a me fitar.
Na ciranda maldita aterradora
Nesta roda gigante do terror
A matilha de cães já me devora
De tão fraco não grito mais de dor
Urubus investem em voos rasantes
Sobre a minha carcaça padecente
Ofegando eu clamava por socorro
E as pessoas transitam indiferentes
A rapina cortava minha carne
Espalhando minhas vísceras pelo chão
Com o mundo a girar clamava ao céu
E sentia já parando o coração
Adeus sonho, adeus vida adeus barco!
Findo aqui minha odisseia da ilusão!
Ass: Artur Oliveira


CORDEL É MINHA VIDA


Qui ném a abeia faz o mé
 E a aranha tece a teia
O cordé tá no meu sangue
Correno na minha veia
Toda rima é bunita
Pra mim num tem rima feia.

Se eu pudesse, eu vivia
Na rede, de papo pra cima
Só iscreveno bestage
Cantano e fazeno rima
Pruque cantá e fazê vesso
É minha maió istima.

Num quiria sê dotô
Nem prisisava sê formado
Pois pra mim bastava sê
Um rimadô afamado
Pra vê o povo dizê
Eta pueta retado!

Vivê iscrafunchano rima
É a coisa qui mais tem graça
Num tem coisa neste mundo
Qui mais agrado me faça
Num alimento oto viço
Cordé é minha cachaça.

Quiria qui eu pricisase
Só de caneta e papé
E qui de mais nada no mundo
Tivesse que prestá fé
Pra mode matá meus intento
Viveno só de cordé.

In veis de fazê tanta coisa
Qui as veis eu faço na marra
Quiria vivê cantano
Quiném veve a cigarra
Viveno só de cordé
Pruque o cordé me amarra.

Ai se eu num ligasse pra nada
Só rima fosse minha liga
Sem tê qui botá na mesa
As coisa qui a gente mastiga
Só mastigano cordé
Inté inchê a barriga!

Eu ia vivê alegre
Cara feia ninguém via
E era um sujeito concho
Pra todo mundo surria
Viveno só de cordé
Ota coisa eu num quiria.

Mais na brabeza da vida
Num se acha vida mansa
Sei qui vesso num ingorda
E nem tumém dá sustança
Tem qui fazê otas coisa
Qui é pra mode inchê a pança.

Quando eu procuro palava
qui faça rima cum vida
Bate logo na cabeça
A tale palava lida
Pruque o trabaio é priciso
Pra garanti a cumida.

Assim, num dá pra vivê
Quiném sapo na lagoa
Só cantano e fazeno papo
E gozano das coisa boa
O trabaio é lei da vida
Num dá pra vivê de loa.

Só de vesso num se veve
Mermo assim sô rimadô
Pruque adotei o cordé
E o cordé me adotô
"Nem só de pão veve o home"
É a palava do sinhô!

Por Noedson Valois

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