DECLAMA NONÓI

 ENCONTRO COM A POESIA

Por Noedson Valois

Quando o dia me chamou,

eu saí pra ver o dia.

Contemplei a sua face,

que timidamente surgia.

O dia, ao amanhecer,

chamou-me então para ver,

e entregou-me a poesia.

Do seu pleno esplendor

bem pouco ainda se via.

Porém a luz parcial

encantos já me trazia.

E ali, contemplando a aurora,

eu marquei naquela hora

um encontro com a poesia.

Pouco a pouco, na penumbra,

maior a luz se fazia.

E ali, a minha penumbra,

ela também invadia.

E a luz em mim crescente

mostrava-ne claramente

a face da poesia.

Em toda a beleza visível

algo sublime ali via.

Traz encanto aos nossos olhos

e noss'alma alivia.

E o poema se faz, quando,

o dia vem despontando

carregado de poesia 

Em cada canto, um canto,

em homenagem ao dia.

Mais crescia o meu encanto

a cada canto que audia.

Ali, ao  romper da aurora,

aquela trilha sonora 

ecoava poesia.

E a cortina do espetáculo

cada vez mais se abria.

E a sombra se dissipava

enquanto a luz se expandia.

Era o dia a avançar,

e em seu avanço a espalhar

toda a sua poesia.

Em tudo que eu avistava

era um encanto que via.

Tudo é belo quando os olhos

enxergam toda a magia.

O dia é mesmo um presente,

e em cada coisa se sente

a presença da poesia.

E a luz, a rasgar vestes,

toda a paisagem despia.

Nos horizontes desnudos,

o meu olhar se perdia.

E, ao perder-se, achava,

o que a paisagem mostrava:

encantamento e poesia.

Com a plenitude da luz

sombras já não mais havia.

Meu olhar se fixava

nos montes que ao longe via.

E como nos horizontes,

vislumbrei também nos montes

beleza e poesia.

Quando o dia chamá-lo,

saia pra ver o dia.

O espetáculo é de graça,

e muita vida irradia.

Atendendo ao chamamento,

tive, naquele momento,

um encontro com a poesia.

Em 17 de junho de 2022.

FESTA DE JÃO SOÃO

Por Noedson Valois

Este ano vou fazer

uma festa diferente.

Vou fazer acontecer

São João de trás pra frente.

O depois vai virar antes

e o antes virar depois.

E ao invés de vinte e quatro,

é dia quarenta e dois.

Já tá tudo preparado,

a festa vai ser assim:

vamos ter caldo de milho

e mungunzá de aipim.

Vai ter licor pra comer,

 canjica pra se tomar...

E quentão na geladeira

também não pode faltar.

Tomar bolo de fubá,

comer caldo de aipim,

mastigar um vinho quente

e beber amendoim.

Lá em cima da fogueira,

o fogo 🔥 quero acender.

Fogueira com o pé pra cima,

e o meu balão vai descer.

Vamos ter chão estrelado,

poeira levanta do céu...

Ponha o chinelo na cabeça

e caia no arrasta-chapéu.

E pra não fazer besteira

na festa de Jão Soão,

tem que ter os pés pra cima

e a cabeça no chão.

E aí, na hora da dança,

para não sair do clima,

homem de cabeça pra baixo,

mulher com as pernas pra cima.

Pra festa de Jão Soão,

pode vir quem bem quiser.

Mas mulher vai virar homem

e homem virar mulher.

Em 22 de junho de 2022

VIDEJANTE

Por Noedson Valois

Pela estrada, videjando,

deixo a vida me levar.

Se há vida em cada ponto,

vou seguindo a videjar.

Se tudo aqui é videjo,

vídejo pra aproveitar.

E me farto na fartura.

Coisa boa é videjar!

Na estrada, tudo vejo,

vejo a vida a deflagrar.

Por isso é que eu videjo.

Não me cansa o videjar.

O chão sinaliza a vida,

sinais de vida há no ar.

Se a vida segue suave,

sigo eu a videjar.

Lá, lonjão, eu vejo a vida,

pois há vida em meu olhar.

Vídejo tudinho de perto;

o que quero é videjar.

Há vida atrás e na frente,

há vida a nos ladear.

Lado a lado com a vida,

sigo eu a videjar

Há vida lá em cimão.

Na vida posso pisar. 

É meu teto e é meu piso, 

sou pisante a videjar.

Vejo, no voo, a vida

há vida no rastejar.

Em meu caminhar, videjo,

caminho em meu videjar.

Se o ontem já se foi,

o amanhã ainda vai chegar.

Sou videjante de agora.

é hora de videjar.

Cada tiquinho da vida,

tá aí pra  se aproveitar.

Seja também videjante,

vamos juntos videjar.

Em 21 de junho de 2022

EQUILÍBRIO

Por Noedson Valois

Se ao grande sobra e falta ao pequeno...

Onde encontraremos o tamanho certo?

Se falta ao pouco e sobra ao muito...

Que quantidade será suficiente?

Se por andar pouco, não chego, e passo por andar demais...

Onde está o verdadeiro ponto de chegada?

Se por querer demais ou querer de menos, não consigo...

Quanto me será bastante?

Se caminho e não alcanço, e quando corro, canso...

Qual é a velocidade ideal???

Se eliminarmos as sobras, teremos o que nos falta.