--Sou ator.
--Sim, mas trabalha em quê, o que faz pra ganhar dinheiro?
O dialogo acima acontece amiúde. A profissão de ator/atriz é uma
dasprofissões mais antigas do mundo e até hoje uma das menos respeitadas
pela sociedade. Antes da regulamentação da profissão nós, atores,
éramos obrigados a tirar a carteirinha de “Artista” (a palavra vinha
entre aspas mesmo) para podermos trabalhar. Essa carteira, feita numa
delegacia de polícia, era a mesma que permitia o trabalho para as
prostitutas. Algumas histórias de famosos demonstram o preconceito
contra a profissão. Procópio Ferreira contava que o Colégio Sion de São
Paulo não aceitou a matrícula de Bibi Ferreira por ser filha de
artistas...
Em maio de 1978 a profissão ARTISTA foi regulamentada e, entre as 52
funções que ela abrangia estava a função ATOR/ATRIZ. A partir da
publicação da lei 6533/78 os artistas de modo geral e, particularmente,
os atores entraram oficialmente no mercado de trabalho como
trabalhadores.
A lei foi desenhada por advogados que desconheciam a profissão e as
diferenças inerentes entre tantas funções e por artistas que pouco
entendiam de leis. Se, por um lado, oficialmente os artistas passaram a
ser reconhecidos como trabalhadores, por outro lado, o “modus operandi”
criado pela lei não cabia nas relações de trabalho do ator. Qual
ator/atriz que cumpre uma carga horária de 6h fazendo teatro ou TV ou
comercial ou cinema ou dublagem? O nosso ofício tem esse diferencial
tanto podemos trabalhar 1h quanto 18hs dependendo da produção que
estamos participando. Como cumprir uma carga horária igual a outras
funções se o que fazemos não tem rotina sequer de empregador, (quando
temos empregador) sim, porque na maioria das vezes prestamos serviços
como autônomos a diversas empresas ao mesmo tempo, isso quando não somos
nós mesmos os produtores.
Essa liberdade de criar, fazer ou não fazer, de sermos senhores do
nosso trabalho é o que caracteriza a profissão do ator e deveria ser a
nossa força. Nosso trabalho tem o preço que nós cobramos e não o que o
outro quer pagar. Enquanto não assumirmos a nossa profissão e lhe dermos
o VALOR que de fato tem como catalisador cultural, continuaremos a
esmolar um emprego de carteira assinada para termos a “segurança” de um
salário no fim do mês.
Precisamos resgatar nossa autoestima e acordar para a
responsabilidade sócio-cultural do nosso trabalho que, muitas vezes,
continua por gerações. O grande Rodolfo Mayer dizia: “Meu trabalho não
tem preço, tem valor.” Vamos redescobrir esse valor, intrínseco nos
DIREITOS CONEXOS. Quando damos mais qualidade e respeitamos o que
fazemos agregamos VALOR. Não somos mercenários que fazemos qualquer
coisa por dinheiro. Somos artistas, nosso trabalho tem VALOR. Da próxima
vez que alguém perguntar em que você trabalha, responda orgulhosamente:
SOU ATOR!
Zodja Pereira
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